
Um artigo publicado na versão digital da revista científica Icarus relata que pedaços de Mercúrio podem ter sido encontrados na Terra. Dois meteoritos analisados por pesquisadores britânicos apresentam características que indicam uma possível origem no planeta mais próximo do Sol.
Se confirmado, este será o primeiro registro de rochas mercurianas em solo terrestre, oferecendo uma rara oportunidade de estudo.
Até hoje, nenhuma missão espacial trouxe amostras da superfície de Mercúrio. As únicas sondas que chegaram perto foram a Mariner 10 e a MESSENGER, ambas da NASA, que ficaram apenas sobrevoando o planeta. Um pouso controlado seria tecnicamente complexo e financeiramente caro, com uma viagem que pode levar até sete anos para ser concluída.
É mais difícil chegar em Mercúrio do que em Plutão
Conforme destaca a Agência Espacial Europeia (ESA), alcançar Mercúrio é mais difícil do que atingir planetas mais distantes, como Júpiter ou até mesmo Plutão. A principal barreira é a gravidade intensa do Sol. Qualquer nave que tente orbitar Mercúrio precisa frear de forma constante para não ser puxada pela nossa estrela hospedeira. Isso exige muito combustível ou o uso de manobras gravitacionais envolvendo outros planetas.
“Para conseguir reduzir a velocidade, é necessário realizar vários voos de aproximação por outros planetas ao longo do caminho”, explicou Johannes Benkhoff, cientista da ESA responsável pela missão BepiColombo. Essa longa trajetória e as altas temperaturas próximas ao Sol tornam a missão ainda mais desafiadora.
Por isso, a possibilidade de que fragmentos de Mercúrio tenham chegado espontaneamente à Terra é vista como uma grande vantagem científica. Impactos de meteoros podem ter lançado detritos da superfície de Mercúrio ao espaço. Esses pedaços, então, vagaram pelo Sistema Solar até cruzarem a órbita da Terra, caindo como meteoritos.

Segundo a NASA, Mercúrio, assim como a Lua, é coberto por inúmeras crateras causadas por colisões com asteroides e cometas. No entanto, nunca houve uma confirmação oficial de um meteorito mercuriano encontrado na Terra. Para os pesquisadores, esse era um mistério que durava décadas.
Agora, os meteoritos Ksar Ghilane 022 e Northwest Africa 15915 estão sendo considerados os primeiros candidatos promissores. Eles contêm minerais como olivina, piroxênio e oldhamita, que combinam com o que já se sabe sobre a crosta de Mercúrio. “Sua mineralogia e composição de superfície também exibem semelhanças intrigantes com a crosta de Mercúrio. Isso nos levou a especular sobre uma possível origem mercuriana”, revela o autor principal do estudo, Ben Rider-Stokes, pesquisador de pós-doutorado em meteoritos acondritos na Open University, na Inglaterra, ao site The Conversation.
No entanto, os cientistas preferem manter cautela. Um detalhe que gera dúvida é a baixa quantidade de plagioclásio nos meteoritos, enquanto Mercúrio tem uma superfície rica nesse mineral. Outro ponto intrigante é a idade das amostras: estima-se que elas tenham cerca de 4,528 bilhões de anos, o que as torna mais antigas do que as superfícies mais velhas visíveis em Mercúrio.
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Missão BepiColombo pode desvendar o mistério
Essa diferença levanta questões sobre o passado do planeta. Em entrevista ao site Space.com, Simone Marchi, do Instituto de Ciências Lunares da NASA, lembra que Mercúrio pode ter perdido parte de sua história geológica inicial.
“Se a superfície mais antiga visível em Mercúrio tiver 4 bilhões ou 4,1 bilhões de anos, isso implicaria que os primeiros 500 milhões ou 400 milhões de anos do planeta foram apagados”, diz Marchi. “Não há registro da superfície mais antiga de Mercúrio, e esperamos que ele tenha se formado praticamente como a Terra ou a Lua, há cerca de 4,5 bilhões de anos”.

De acordo com Rider-Stokes, isso não descarta necessariamente que as rochas tenham vindo do planeta. Ele acredita que os meteoritos podem ter vindo de regiões profundas ou de partes da crosta que não existem mais na superfície mercuriana atual.
Mais respostas podem surgir em breve. Em 2026, a missão BepiColombo, uma parceria entre a ESA e a Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (JAXA), entrará na órbita de Mercúrio. Os cientistas esperam que os novos dados ajudem a comparar melhor as características da superfície do planeta com as dos meteoritos encontrados na Terra.
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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/06/26/ciencia-e-espaco/pedacos-do-planeta-mercurio-podem-ter-sido-encontrados-pela-primeira-vez-na-terra/