24 de junho de 2025
Quais as chances de sobreviver a uma explosão nuclear em
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No último fim de semana, o governo dos EUA confirmou ter destruído três instalações nucleares no Irã (Fordow, Natanz e Esfahan), sob o argumento de defesa de Israel – o que reacendeu o temor de uma possível Terceira Guerra Mundial. A ação levantou discussões sobre os riscos de um conflito nuclear e o impacto que uma bomba atômica teria atualmente sobre uma cidade populosa.

Em poucas palavras:

  • Recentemente, os EUA destruíram três instalações nucleares no Irã, aumentando o temor de uma guerra nuclear global;
  • Ataques nucleares em guerra ocorreram somente em 1945, em Hiroshima e Nagasaki, Japão, também pelos EUA;
  • As duas bombas atômicas causaram milhares de mortes imediatas e efeitos da radiação a longo prazo;
  • Tratados internacionais buscam impedir produção, testes e uso de armas nucleares no mundo;
  • Uma explosão nuclear provoca clarão, calor intenso, onda de choque e radiação perigosa;
  • Guerra nuclear em larga escala causaria inverno nuclear severo, colapso da agricultura e extinção em massa.

Até hoje, os únicos ataques nucleares realizados em situação de guerra aconteceram em 1945, durante a Segunda Guerra Mundial, quando os EUA lançaram duas bombas sobre o Japão com o objetivo de forçar a rendição do país e pôr fim ao conflito que já durava seis anos.

Nuvens de cogumelo atômicas sobre Hiroshima (esquerda) e Nagasaki (direita). Créditos: George R. Caron/Carlos Levy – Creative Commons

Consequências das bombas nucleares no Japão

A primeira bomba, chamada Little Boy, foi lançada sobre Hiroshima no dia 6 de agosto. Com 72 kg de urânio, ela explodiu cerca de 43 segundos após ser liberada de uma altitude de mais de 10 mil metros. A explosão teve força equivalente a 13 mil toneladas de TNT, destruindo tudo num raio de dois quilômetros.

Cerca de 70 mil pessoas morreram imediatamente. A cidade ficou coberta por uma nuvem em forma de cogumelo, bloqueando o sol e provocando uma chuva negra, carregada de partículas radioativas. Até o fim daquele ano, outras 60 mil pessoas morreriam devido às sequelas da radiação.

Três dias depois, a cidade de Nagasaki foi o segundo alvo. A bomba, batizada de Fat Man, era de plutônio e ainda mais potente que a anterior. A explosão destruiu uma área de 3 por 5 quilômetros, matando cerca de 35 mil pessoas na hora. Nos anos seguintes, outras 100 mil pessoas morreram em decorrência dos efeitos da radiação.

A maior parte das vítimas era composta por civis. 

Tratados internacionais visam garantir que não haverá guerra nuclear

Esses ataques permanecem como os únicos registros de uso de armas nucleares em combate. Desde então, vários tratados internacionais foram criados para impedir novos ataques desse tipo. Entre os principais estão o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) e o Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares (CTBT), que buscam restringir a produção, os testes e o uso de armas nucleares no mundo.

Mesmo assim, o planeta ainda abriga cerca de 12,7 mil ogivas nucleares, mantidas por algumas potências militares, como Rússia (que lidera o ranking), EUA, França, Reino Unido e China, com a Coreia do Norte por último (saiba mais aqui). 

O Museu do Míssil Titan, em Tucson, Arizona, EUA, abriga um míssil ICBM nuclear Titan II desativado. Crédito: David Buzzard – Shutterstock

Diante do clima de tensão internacional, cresce o interesse público por uma pergunta que parece saída de um filme de ficção científica: o que aconteceria se uma bomba nuclear fosse detonada hoje?

Impacto de uma bomba nuclear depende de vários fatores

Um vídeo produzido pelo canal AsapSCIENCE, especializado em divulgação científica, explica as diferentes fases de uma explosão nuclear e as chances de sobrevivência em cada uma delas.

O impacto depende de vários fatores: o tamanho da ogiva, a altitude da explosão, o clima no momento do ataque, a hora do dia e o relevo do local atingido. No entanto, conforme destaca o site Science Alert, alguns efeitos seguem um padrão físico conhecido.

O primeiro é o clarão. Cerca de 35% da energia de uma bomba nuclear se transforma em radiação térmica, com luz e calor viajando quase à velocidade da luz. Pessoas próximas ao local podem sofrer cegueira instantânea em questão de segundos.

No caso de uma bomba de 1 megaton (que é 80 vezes mais potente que a de Hiroshima, mas ainda menor que várias armas nucleares modernas), pessoas até 21 km de distância poderiam ter cegueira temporária se fosse de dia. À noite, esse efeito se ampliaria para até 85 km.

Logo depois, vem o calor. Queimaduras leves de primeiro grau poderiam afetar quem estivesse a até 11 km da explosão. Já as queimaduras de terceiro grau, com risco de morte, atingiriam pessoas num raio de até 8 km. Até mesmo a cor das roupas pode influenciar: tecidos brancos refletem melhor o calor, enquanto roupas escuras absorvem mais energia.

Nas regiões próximas ao epicentro, as temperaturas podem chegar a 300 mil graus Celsius. Isso é centenas de vezes mais quente do que o necessário para cremar um corpo humano, causando a vaporização instantânea das vítimas.

Na sequência, vem a onda de choque. A explosão desloca o ar ao redor com violência, gerando ventos de até 255 km/h em um raio de 6 km. Construções de dois andares seriam facilmente derrubadas. A apenas 1 km do epicentro, a pressão pode ser quatro vezes maior, com ventos acima de 750 km/h.

Dentro do “Salão Memorial Nacional da Paz para as Vítimas da Bomba Atômica”, no Memorial da Segunda Guerra Mundial, em Nagasaki, Japão. Crédito: f11photo – Shutterstock

Mesmo que alguém sobreviva ao impacto inicial, ainda enfrentaria o risco de soterramento por escombros. Além disso, a exposição à radiação é outro perigo imediato. A chamada precipitação nuclear – ou “chuva radioativa” – espalha partículas tóxicas que podem ser inaladas ou absorvidas pela pele.

Essas partículas podem viajar por centenas de quilômetros, dependendo dos ventos. Um estudo recente encontrou resíduos de carbono radioativo, deixados por testes nucleares da Guerra Fria, até na Fossa das Marianas, o ponto mais profundo dos oceanos.

Leia mais:

  • Uma bomba atômica é capaz de consumir atmosfera da Terra?
  • Como seria o estrago da bomba atômica no Brasil?
  • Como as câmeras que filmaram testes nucleares sobreviveram às explosões?

Guerra nuclear provocaria mudanças profundas no clima e ambiente global

Se a explosão fizesse parte de uma guerra nuclear em larga escala, os efeitos seriam ainda mais devastadores. Uma simulação feita em 2019 mostrou que um conflito entre EUA e Rússia poderia mergulhar o planeta em um “inverno nuclear”, com queda brusca das temperaturas, bloqueio da luz solar e colapso na produção de alimentos.

Por tudo isso, especialistas reforçam a importância dos tratados internacionais que limitam o uso de armas nucleares. Apesar das tensões políticas, esses acordos têm sido fundamentais para impedir que um novo ataque nuclear aconteça desde 1945.

Mesmo para quem estivesse a dezenas de quilômetros de distância da explosão, os riscos de queimaduras, soterramento e contaminação por radiação seriam altos. Em caso de um conflito em larga escala, os impactos climáticos e ambientais poderiam afetar o planeta inteiro por anos.

Embora o cenário seja hipotético, o avanço da tecnologia nuclear e as recentes crises internacionais mostram que o tema continua preocupante.

O post Quais as chances de sobreviver a uma explosão nuclear em diferentes distâncias? apareceu primeiro em Olhar Digital.

Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/06/24/ciencia-e-espaco/quais-as-chances-de-sobreviver-a-uma-explosao-nuclear-em-diferentes-distancias/