Em buracos negros, pontos de não retorno são limites. Passou deles, não tem mais saída. Quando se pensa sobre mudanças climáticas, existem pontos de não retorno também (metaforicamente falando). E um estudo recente alerta que, atualmente, não sabemos com precisão quais são esses pontos e onde ficam.
O que preocupa é que caminhamos a passos largos em direção a esses pontos. A pesquisa, publicada na revista Science Advances, vai além. O texto alerta que se nossas observações e modelagens não melhorarem muito, quando percebermos quão próximos estão esses pontos de inflexão, será tarde demais.
Limites das mudanças climáticas assombram cientistas há décadas
Esses pontos de inflexão fariam os efeitos das mudanças climáticas irem de desastrosos para catastróficos para a maior parte do planeta. Muitos pontos são locais, mas alguns de dimensão global têm assombrado especialistas em clima por décadas.
Entre esses pontos de inflexão, estão:
- Maior parte (ou toda) a Floresta Amazônica ir de floresta tropical para savana;
- Derretimento acelerado do permafrost da tundra e dos hidratos de metano oceânicos;
- Colapso da Circulação Meridional do Atlântico (AMOC) – exemplo aprofundado na pesquisa – e das nuvens estratocumulus;
- Recuo de alguns dos glaciares do planeta para além de certos pontos de sustentação.
Se adicionássemos gases do efeito estufa suficientes à atmosfera, todos esses provavelmente aconteceriam. Resultado: a vida se tornaria insuportável para a maior parte da humanidade.
No entanto, os autores do estudo apontam que temos poucas chances de saber o que seria necessário para desencadear cada um.
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Principais incertezas sobre limites das mudanças climáticas
Segundo os pesquisadores, há três principais fontes de incerteza em nossas estimativas do que desencadearia cada ponto de inflexão. São eles:
- Modelos dos mecanismos físicos por trás dos pontos de inflexão são pelo menos um pouco simplistas e podem não capturar totalmente as razões pelas quais as inflexões anteriores ocorreram;
- Observações dos sistemas relevantes nem sempre podem ser tão representativas quanto aqueles que fazem modelos desses sistemas assumem;
- Dados históricos (tanto de observações diretas quanto de proxies climáticas) cobrem apenas uma fração dos locais e tempos necessários para entender o comportamento passado.
Além disso, esforços para preencher as lacunas estatisticamente não são tão confiáveis quanto alguns pesquisadores pensam.
“Nossa pesquisa é tanto um alerta quanto um conto cautelar”, diz a autora principal, Maya Ben-Yami, em comunicado. “Há coisas que ainda não podemos prever, e precisamos investir em dados melhores e em um entendimento mais profundo dos sistemas em questão. Os riscos são altos demais para confiar em previsões instáveis.”
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Fonte: https://olhardigital.com.br/2024/08/05/ciencia-e-espaco/quando-soubermos-que-passamos-do-limite-das-mudancas-climaticas-sera-tarde/