1 de dezembro de 2025
Radiação ‘fantasma’ cerca estrelas recém-nascidas em flagra do James Webb
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Uma equipe internacional de astrônomos usou o Telescópio Espacial James Webb (JWST), da NASA, para analisar a formação estelar de Ofiúco, localizada a cerca de 450 anos-luz da Terra. As observações indicaram radiação ultravioleta de alta energia ao redor de cinco protoestrelas na região. 

Relatado em um artigo publicado na revista Astronomy & Astrophysics, esse resultado desafia modelos consolidados de como as estrelas nascem e evoluem, ao sugerir uma fonte interna e surpreendente de radiação nas fases iniciais da vida estelar.

Radiação ultravioleta em protoestrelas: o que você precisa saber

  • James Webb detectou emissões de alta energia ao redor de cinco protoestrelas em Ofiúco;
  • Os dados apontam para uma origem interna da radiação, e não de estrelas próximas;
  • O resultado desafia modelos tradicionais de formação estelar e de jatos de matéria;
  • Hidrogênio molecular aquecido por choques ajudou a “denunciar” a presença do UV.
Uma visão detalhada da formação estelar em curso nas nuvens moleculares de Ofiúco, com um zoom em uma das protoestrelas (GSS 30 IRS1) com um fluxo proeminente de hidrogênio molecular, observado pelo JWST.Créditos: Imagem à Esquerda: Skretas et al.; Imagem à direita: NASA, ESA, CSA, STScI, Klaus Pontoppidan (STScI), Processamento: Alyssa Paghan (STScI)

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Descoberta revoluciona a visão sobre a formação de estrelas

Protoestrelas são estrelas na fase inicial da vida, ainda envoltas por gás e poeira da nuvem que as gerou. Enquanto crescem, parte desse material cai no objeto central e parte é ejetada em jatos, criando choques que aquecem o ambiente ao redor. Esses choques fazem o hidrogênio molecular (a molécula mais comum do Universo) emitir um brilho característico em infravermelho, faixa em que o telescópio Webb é especialmente sensível.

No caso de Ofiúco, além das protoestrelas, a região abriga estrelas jovens e quentes do tipo B, conhecidas por emitir forte radiação ultravioleta. Isso levantou a dúvida: o UV visto perto das protoestrelas viria dessas vizinhas massivas ou de processos internos ligados ao próprio processo de nascimento?

Para investigar as hipóteses, os pesquisadores observaram cinco protoestrelas a diferentes distâncias das estrelas massivas e modelaram como a poeira local absorve e reemite a radiação. Se o UV viesse principalmente de fora, seria esperado ver diferenças claras nas assinaturas moleculares entre os objetos. “Usando esses dois métodos, mostramos que a radiação ultravioleta, em termos de condições externas, varia significativamente entre nossas protoestrelas e, portanto, deveríamos observar diferenças na emissão molecular”, explicou Iason Skretas, do Instituto Max Planck de Radioastronomia, na Alemanha, principal autor do estudo, em um comunicado. “Acontece que não as observamos.”

Iason Skretas, estudante de doutorado no Instituto Max Planck de Radioastronomia, na Alemanha. Crédito: Universidade Nicolau Copérnico

Com isso, a equipe descartou a origem externa. “Esta é a primeira surpresa. Estrelas jovens não são capazes de ser uma fonte de radiação; elas não podem ‘produzir’ radiação. Portanto, não deveríamos esperar isso. E, no entanto, mostramos que a radiação ultravioleta ocorre perto de protoestrelas”, disse Agata Karska, do Centro de Tecnologias Interdisciplinares Modernas da Universidade Nicolau Copérnico, na Polônia. “Podemos afirmar com certeza que a radiação UV está presente nas proximidades da protoestrela, pois ela afeta inegavelmente as linhas moleculares observadas. Portanto, sua origem deve ser interna.”

Os autores sugerem que choques muito energéticos, provocados pela queda de material ou ao longo dos jatos, podem gerar o UV observado. Além do gás, a equipe continuará analisando poeira e gelo em Ofiúco para desvendar o mecanismo exato. O avanço abre caminho para revisar como jatos, choques e radiação moldam o ambiente onde planetas e moléculas complexas começam a surgir.

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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/12/01/ciencia-e-espaco/radiacao-fantasma-cerca-estrelas-recem-nascidas-em-flagra-do-james-webb/