Há cerca de três bilhões de anos, uma estrela entrou na região dominada por dois buracos negros gigantescos e acabou destruída. Ainda hoje, é possível enxergar os fracos raios X deixados por aquele evento caótico, que pode ser o episódio mais distante já observado envolvendo dois buracos negros agindo sobre a mesma estrela.
A análise desse fenômeno foi conduzida por uma equipe internacional que acompanha a fonte há mais de duas décadas. Um artigo relatando a descoberta está disponível no servidor online de pré-impressão arXiv e já foi aceito para publicação pela revista The Innovation.
🔭 Mind-blowing cosmic discovery! XID 935, the faintest X-ray tidal disruption event (TDE) ever found, is rewriting how we understand supermassive black holes (SMBHs)!
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Em resumo:
- Uma estrela foi violentamente destruída por monstro cósmico gigantesco há bilhões de anos;
- Os fracos raios X do fenômeno persistem revelando evento extremamente distante;
- A fonte XID925 apresentou luminosidade decrescente característica de TDEs;
- Um surto inesperado muito mais intenso então surpreendeu pesquisadores;
- Cientistas propõem interação entre dois buracos negros explicando perturbação.
A fonte, chamada XID 925, pode ser a erupção de raios X variável mais fraca já registrada. Ela foi detectada em 1999 durante o levantamento Deep Field South, do Observatório de Raios X Chandra, da NASA, conhecido por produzir as imagens mais profundas já obtidas nesse tipo de radiação.
Sinais da destruição da estrela estão enfraquecendo
Desde que surgiu nos dados, o XID 925 perdeu brilho de forma contínua. O que antes era um ponto relativamente intenso se transformou em uma fonte tênue, reduzida a apenas uma fração de sua luminosidade inicial. Esse comportamento é típico dos chamados eventos de ruptura de maré (TDEs), nos quais uma estrela é esticada (ou “espaguetificada”) e desmontada pela gravidade extrema de um buraco negro supermassivo.
Nesses eventos, o material arrancado da estrela forma um disco giratório e muito quente ao redor do buraco negro. Esse disco libera raios X que podem ser vistos a bilhões de anos-luz de distância. Com o tempo, porém, o gás é consumido e o brilho diminui, criando uma curva de luz de declínio lento, semelhante à que foi observada no XID 925.

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Surto de brilho sugere ação de dois buracos negros
No entanto, algo inesperado aconteceu em 1999. Entre janeiro e março, o brilho da fonte disparou de forma repentina, tornando-se 27 vezes mais intenso do que o normal. Logo depois, caiu novamente, retomando o padrão de enfraquecimento contínuo. Essa mudança brusca não combina com o comportamento típico de um TDE simples, motivando os cientistas a buscar outra explicação.
A hipótese mais provável é que dois buracos negros supermassivos estivessem atuando no sistema no momento do evento. O primeiro teria destruído a estrela, criando o disco quente de gás que produziu os raios X originais. O segundo, menor, teria passado perto desse disco (ou até o atravessado), causando uma perturbação violenta que liberou energia adicional em forma de raios X.
Quando o segundo buraco negro se afastou, o sistema voltou ao comportamento esperado de um TDE em declínio. Embora ainda existam incertezas, os pesquisadores afirmam que essa é a interpretação mais consistente com os dados. Se confirmada, representará o TDE envolvendo um par de buracos negros mais distante já registrado, oferecendo uma janela rara para entender como esses gigantes interagem nos núcleos de galáxias jovens.
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