7 de setembro de 2025
Reator nuclear na Lua? Entenda qual a motivação da NASA
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A exploração espacial entrou em uma nova fase. Mais do que enviar astronautas para missões de curta duração, o objetivo agora é construir infraestrutura que permita uma presença permanente fora da Terra. 

Nesse contexto, a NASA planeja instalar um reator nuclear na Lua até 2030, passo estratégico para viabilizar bases lunares e testar tecnologias que futuramente poderão ser usadas em Marte.

Mas, afinal, por que os Estados Unidos querem construir um reator nuclear na Lua? E como eles poderão fazer esse ambicioso plano?

Por que os EUA querem construir um reator nuclear na Lua?

Tremores na Lua podem gerar deslizamentos de terra e rochas, sendo um potencial perigo para futuras bases lunares, segundo estudo. (Imagem: Domenichini Giuliano / Shutterstock)

A principal razão é simples: energia. Diferente de satélites e rovers que podem depender de painéis solares, uma base lunar precisa de fornecimento elétrico constante para manter habitats, laboratórios, sistemas de suporte à vida e até fábricas que usem impressão 3D para construir estruturas no espaço.

O polo sul da Lua, onde a NASA pretende instalar futuras bases, possui crateras permanentemente sombreadas. Nessas regiões, os painéis solares não funcionam de forma eficiente, tornando a energia nuclear a alternativa mais confiável.

Um reator nuclear compacto pode fornecer eletricidade contínua por anos, sem depender da luz do Sol ou de grandes estoques de baterias. Isso dá autonomia para operações de longa duração, testes de tecnologias e até a produção de combustível usando recursos lunares, como o gelo de água presente nas crateras.

O que é um reator nuclear?

Representação artística de um reator de fusão nuclear tokamak gerando plasma superaquecido. Crédito: Marko Aliaksandr – Shutterstock

Para entendermos o motivo deste ambicioso plano da Nasa é importante entender o que é e como funciona essa tecnologia. Um reator nuclear é uma instalação onde ocorre a fissão controlada de átomos de elementos como urânio ou plutônio. Esse processo libera grandes quantidades de calor, que pode ser convertido em energia elétrica.

Enquanto usinas convencionais queimam combustíveis fósseis para gerar vapor, os reatores dividem núcleos atômicos, liberando energia de forma contínua. O calor gerado aquece água, movimenta turbinas e produz eletricidade.

Além disso, os reatores nucleares são blindados com camadas de aço e concreto para evitar vazamentos de radiação, tornando-se seguros para operação mesmo em ambientes extremos.

Diferença para uso espacial

Ambicioso reator nuclear espacial da Rolls-Royce
(Imagem: Divulgação/Rolls Royce)

Na Terra, os reatores costumam ser grandes e pesados, mas no espaço a lógica é outra. O foco é desenvolver microrreatores compactos, leves e capazes de funcionar de maneira autônoma por longos períodos, sem manutenção.

Esse tipo de sistema já foi usado em satélites e sondas desde os anos 1960. Os EUA, por exemplo, lançaram reatores experimentais em 1965. O desafio agora é adaptar a tecnologia para uso em larga escala na Lua.

Como será construído o reator lunar

Transporte e montagem

Décimo voo de teste da Starship
Décimo voo de teste da Starship. Imagem: SpaceX / Divulgação

O reator não será construído do zero na Lua. A ideia é desenvolver o sistema em solo terrestre, em módulos, e enviá-lo pronto para montagem. O transporte dependerá de foguetes de alta capacidade, como o Starship da SpaceX, que poderá levar cargas pesadas até a superfície lunar.

Uma vez instalado, o reator será enterrado ou blindado com camadas protetoras para conter radiação e garantir operação segura perto dos astronautas.

Desafios técnicos

Apesar da viabilidade teórica, ainda existem obstáculos a serem superados. A produção industrial é um deles, já que os Estados Unidos não contam atualmente com empresas em número suficiente para fabricar microrreatores em escala. 

nasa
Imagem: Mamun_Sheikh/Shutterstock

Outro ponto relevante é o custo, estimado em cerca de US$ 800 milhões por ano (aproximadamente R$ 4,3 bilhões), ao longo de cinco anos. Além disso, a logística impõe grandes desafios, pois os sistemas, complexos e pesados, precisam resistir ao lançamento, ao pouso e à instalação em um ambiente hostil. 

Soma-se tudo isso à questão dos recursos humanos, já que cortes de pessoal na NASA podem atrasar os cronogramas. Ainda assim, especialistas acreditam que há tempo para superar essas barreiras e alcançar a meta de 2030.

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Competição internacional e importância estratégica

Construir um reator nuclear na Lua não é apenas uma questão de energia, mas também de liderança na nova corrida espacial. A infraestrutura americana pode garantir vantagem sobre rivais e influenciar como outros países atuam no satélite. Embora o Tratado do Espaço Sideral de 1967 proíba a posse territorial, o controle da energia e dos recursos cria influência prática sobre futuras operações.

Conceito artístico da atual corrida espacial, com a China em destaque, ao lados dos EUA e da Rússia, simpolizando esse evento astronômico no Brasil, elaborado com Inteligência Artificial. Crédito: Flavia Correia via DALL-E/Olhar Digital

A iniciativa da NASA responde aos planos de China e Rússia, que querem instalar uma usina nuclear no polo sul lunar até 2035, como parte da Estação Internacional de Pesquisa Lunar (ILRS). A parceria sino-russa ganhou força após as sanções ao governo de Moscou, com Pequim fornecendo tecnologia para suprir falhas da Roscosmos.

Na prática, a construção de reatores pode definir quem terá acesso privilegiado a regiões estratégicas, especialmente as ricas em gelo, recurso essencial para sustentar bases e produzir combustível. Isso não equivale a reivindicar território, mas cria zonas de influência que podem moldar a exploração da Lua nas próximas décadas.

Além disso, o projeto tem valor tecnológico: a experiência obtida será decisiva para futuras missões a Marte, onde a energia solar é ainda mais limitada. Nesse contexto, reatores nucleares oferecem a única forma confiável de garantir eletricidade contínua para habitats, veículos e sistemas de exploração de longo prazo.

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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/09/07/ciencia-e-espaco/reator-nuclear-na-lua-entenda-qual-a-motivacao-da-nasa/