Com o aumento recorde do calor dos oceanos, um dos mais importantes ecossistemas marinhos do planeta, a Grande Barreira de Corais, na Austrália, está enfrentando as temperaturas mais altas da superfície do mar em 400 anos. É o que diz um estudo publicado nesta quarta-feira (7) na revista Nature.
Esse aquecimento acelerado tem provocado um branqueamento em massa dos corais, colocando em risco a biodiversidade e a saúde do ecossistema.
Segundo Benjamin Henley, paleoclimatologista da Universidade de Melbourne e principal autor do estudo, o mundo está prestes a perder um dos seus maiores tesouros naturais. “Infelizmente, estamos testemunhando o fim de uma das maravilhas naturais mais espetaculares da Terra”.
O que é o branqueamento dos corais
A Grande Barreira de Corais, localizada ao longo da costa de Queensland, abriga a maior coleção de recifes de coral do mundo, se estendendo por mais de 2.253 quilômetros e cobrindo uma área superior a 348.000 quilômetros quadrados. No artigo, os cientistas revelam que a temperatura da superfície do mar entre janeiro e março de 2024 foi a mais alta registrada em quatro séculos, superando em 0,19 graus Celsius o recorde anterior.
Essa elevação nas temperaturas é a principal responsável pelo branqueamento dos corais. O fenômeno ocorre quando o coral, sob estresse devido ao calor ou à poluição, expulsa as algas coloridas que vivem em seu interior e que são sua principal fonte de alimento. Sem as algas, os corais perdem sua cor vibrante, tornando-se brancos e mais vulneráveis a doenças e à morte.
Os pesquisadores reconstruíram a história das temperaturas da superfície do mar de 1618 a 2024 utilizando dados de várias fontes, como registros obtidos de navios e satélites, além de núcleos de corais. Esses núcleos, extraídos dos esqueletos dos corais, apresentam faixas claras e escuras que funcionam como os anéis de crescimento das árvores, revelando a idade do coral e as condições ambientais ao longo dos anos.
Helen McGregor, coautora do estudo e paleoclimatologista da Universidade de Wollongong, explicou em um comunicado que a análise da proporção de estrôncio e cálcio nesses núcleos permitiu inferir as temperaturas passadas da água.
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Os pesquisadores concentraram suas análises nos meses de verão, entre janeiro e março, e constataram que, na região estudada, as temperaturas da superfície do mar entre 2016 e 2024 foram 0,77 graus Celsius mais altas do que entre 1970 e 1990, e quase 1,7 graus Celsius mais altas do que os verões mais frios dos últimos quatro séculos.
McGregor destacou que esse estudo evidencia os perigos que as mudanças climáticas representam para a Grande Barreira de Corais. Apesar de o Comitê do Patrimônio Mundial da UNESCO ter decidido em junho não classificar o recife como “em perigo”, os pesquisadores alertam que a ciência aponta claramente para essa necessidade.
Embora o estudo reforce a urgência de reduzir as emissões de gases de efeito estufa, Henley afirmou que ainda há esperança. “Se conseguirmos impedir que as temperaturas da superfície do mar continuem subindo, existe a chance de restaurar esse ecossistema. Temos as ferramentas necessárias, mas precisamos agir rapidamente”.
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