Uma imagem captada do espaço por um satélite revelou o vazamento de calor de um dos maiores centros de mineração de bitcoin dos Estados Unidos. O registro térmico mostra a intensidade da atividade de um grande data center no Texas. E como essa operação impacta o ambiente ao redor.
A imagem foi divulgada pela empresa britânica SatVu nesta semana e chama atenção não só pelo conteúdo, mas pela precisão. Com resolução de 3,5 metros, ela permite enxergar o funcionamento interno da instalação.
Isso num momento em que data centers ligados a criptomoedas, computação em nuvem e inteligência artificial (IA) crescem mais rápido do que a capacidade de fiscalização tradicional.
Imagem térmica de satélite expõe o que acontece dentro de um data center de mineração de bitcoin
O alvo do registro fica em Rockdale, no Texas, cidade que abriga um dos maiores complexos de mineração de bitcoin do país.
A SatVu não confirmou oficialmente qual empresa aparece na imagem, mas a região é conhecida por sediar a operação da Riot Platforms, considerada a maior do setor nos EUA. O destaque não é o prédio em si, mas o rastro de calor que ele libera continuamente no ambiente.
A instalação tem consumo estimado de 700 megawatts, volume de energia comparável ao gasto de cerca de 300 mil residências.
A imagem deixa claro que não se trata apenas de infraestrutura “instalada”, mas de uma operação funcionando em carga elevada. É algo que, até agora, dependia de dados declarados pelas próprias empresas.
O diferencial está no tipo de sensor usado. A câmera térmica embarcada nos satélites da SatVu consegue identificar assinaturas de calor com muito mais precisão do que outros equipamentos em órbita.
Na prática, isso permite ver exatamente onde a energia está sendo dissipada dentro do complexo, sem precisar de acesso físico ao local.
No registro, aparecem padrões claros de calor em sistemas de resfriamento no telhado, transformadores e áreas elétricas.
Algumas partes brilham mais (sinal de atividade intensa) enquanto outras permanecem frias, o que indica áreas ociosas. É uma radiografia térmica que separa o que está ativo do que está apenas construído.
Por que enxergar calor a partir do espaço muda o debate sobre data centers
Esse tipo de imagem resolve um problema antigo: a falta de transparência sobre como grandes data centers realmente operam.
Até hoje, reguladores e analistas dependiam de relatórios, anúncios ou estimativas, muitas vezes divulgados semanas ou meses depois. A observação térmica muda o jogo ao mostrar o que está acontecendo no momento em que acontece.
Segundo a própria SatVu, o calor funciona como um indicador físico direto de atividade. Quando um sistema de resfriamento entra em carga, ou quando uma subestação passa a operar com mais intensidade, isso aparece imediatamente na imagem. É um retrato objetivo do uso real de energia, não da promessa de capacidade futura.
Essa visibilidade interessa a vários atores ao mesmo tempo.
- Operadores de redes elétricas conseguem avaliar a pressão sobre o sistema local;
- Reguladores ganham uma ferramenta independente para monitorar grandes consumidores;
- Analistas e investidores passam a enxergar com mais clareza onde e quando novas fases de um data center entram em operação.

O contexto ajuda a entender por que isso importa tanto. Data centers já estão entre as infraestruturas mais intensivas em energia do planeta, puxados pelo avanço da IA, da nuvem e da mineração de criptomoedas.
Estimativas indicam que eles respondem por cerca de 0,5% das emissões globais de CO₂. No caso do bitcoin, o impacto é ainda mais sensível: um único processamento pode gerar emissões equivalentes a uma viagem de 2,5 mil quilômetros de carro.
Ao mesmo tempo, o setor segue em expansão acelerada. A consultoria McKinsey estima que os investimentos globais em infraestrutura de data centers podem ultrapassar US$ 7 trilhões até 2030, com crescimento anual de até 25% nos Estados Unidos.
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Nesse cenário, enxergar o calor do espaço deixa de ser curiosidade tecnológica e vira uma ferramenta-chave para entender, de fato, como essa nova infraestrutura digital está moldando o consumo de energia no mundo.
(Essa matéria também usou informações do site Space.)
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