*Por Rodrigo Almeida
O universo dos sonhos tem sido objeto de estudos e interesse para pesquisadores de todo o mundo. Em abril de 2021, um grupo de cientistas publicou na revista Current Biology o artigo ‘Real-time dialogue between experimenters and dreamers during REM sleep’, onde afirmam que: (1) os métodos utilizados nos experimentos permitiram a comunicação bidirecional com os indivíduos durante um sonho lúcido (quando permanecemos conscientes enquanto dormimos); (2) Os sonhadores responderam em tempo real aos estímulos, com movimentos oculares voluntários ou sinais musculares faciais.
Em resumo: os cientistas “comprovaram” que é possível se comunicar com pessoas enquanto elas estão em sonhos lúcidos, tendo como principal resultado a esperança de esquadrinhar aplicações práticas para a exploração empírica do sono.
Agora, em 2024, uma empresa americana parece ter dado mais um salto tecnológico nas pesquisas. Segundo a startup REMspace, com sede na California, por meio de um equipamento especial e em dois experimentos diferentes, duas pessoas conseguiram se comunicar enquanto estavam em situação de sonhos lúcidos.
Realizados nos meses de setembro e outubro, os testes comprovaram, nos dois experimentos, o sucesso do “bate-papo” entre sonhos. Utilizando a tecnologia Remmyo, uma linguagem de sonho detectável por meio de sensores sensíveis, foi possível que dois indivíduos vivessem a experiência em suas casas, no qual, por meio do envio de uma palavra Remmyo aleatória para um voluntário – que a repetiu em seu sonho, a outra participante a recebesse quando em estado REM, repetindo-a corretamente ao acordar, comprovando o feito e triunfo do experimento.
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Acontece que, o que pode ser um importante avanço científico, também ergue uma red flag sobre a saúde humana e os limites da produtividade. Segundo a startup, esse estado de alerta do sonho tem sido explorado como uma ferramenta para resolução de problemas e aprendizado de novas habilidades.
What?
Trabalhe enquanto eles dormem? O que você faz entre 0h e 5h? Talento sem trabalho duro não é nada? Perguntas como essas alertam sobre a hipervalorização do trabalho em detrimento à necessidade de descanso. De acordo com a Medprev, a procura online por informações sobre burnout e seus sintomas aumentou 37% em 2024. Segundo dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), do Ministério da Previdência Social, o número de afastamentos por burnout cresceu 136% entre 2019 e 2023, demonstrando os efeitos do estresse crônico causado por excesso de trabalho.
Enquanto a sociedade adoece – dados do relatório da OMS 2024 mostram que as condições crônicas não transmissíveis (CCNTs) são responsáveis por 78% das mortes não relacionadas com a COVID, – corporações, startups e grandes conglomerados estudam como o individuo pode se tornar mais producente e estimulado ao rendimento empresarial.
Precisamos emergencialmente entender até onde estamos dispostos a ir para atingirmos o máximo da produtividade e quais limites não queremos ultrapassar. Não precisamos de dados para notarmos o quanto nós – ou nossos pares – estão adoecidos na busca por sucesso, pertencimento, aprendizados, crescimentos e conquistas. Descanso e lazer parecem cada vez mais perda de tempo numa sociedade onde indubitavelmente importa mais ter do que ser. E tudo isso tem um preço, cabe a você definir o seu.
*Rodrigo Almeida é Relações Públicas; Mestre em Gestão e Tecnologia; Diretor da agência CRIATIVOS
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Fonte: https://olhardigital.com.br/2024/12/24/colunistas/sonhos-lucidos-e-o-novo-dilema-produtividade-ate-durante-o-sono/