30 de janeiro de 2025
Tatu-galinha e sua reprodução única: apenas quadrigêmeos idênticos
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Imagine dar à luz não apenas a gêmeos, mas a quadrigêmeos idênticos — e isso acontecer todas as vezes. No reino animal, esse fenômeno é raríssimo, mas para o tatu-galinha (Dasypus novemcinctus) é a regra. Esse pequeno mamífero da América do Sul e do Norte tem um dos sistemas reprodutivos mais peculiares do mundo: um único embrião se divide em quatro, gerando sempre filhotes geneticamente idênticos e do mesmo sexo.

Essa característica intriga pesquisadores e pode ajudar a entender melhor a evolução dos mamíferos.

Segundo a revista científica IFL Science, esse fenômeno ocorre porque o tatu-galinha possui uma característica rara chamada poliembrionia obrigatória. Diferente dos humanos, em que gêmeos idênticos surgem de uma divisão embrionária ocasional, no tatu-galinha essa separação acontece em toda gestação. Após a fertilização de um único óvulo, ele se divide consistentemente em quatro embriões, resultando em quadrigêmeos geneticamente idênticos.

Curiosamente, novas pesquisas indicam que o tatu-galinha pode não ser uma única espécie, mas sim um grupo composto por quatro espécies distintas. Essa descoberta levanta questionamentos sobre a exclusividade da poliembrionia obrigatória: será que todas essas espécies compartilham a mesma estratégia reprodutiva?

Se houver variações, isso poderia fornecer pistas sobre como e por que esse mecanismo evoluiu. Para os cientistas, essa é uma oportunidade de explorar os mistérios da biologia do tatu e aprofundar a compreensão sobre o desenvolvimento embrionário nos mamíferos.

A estratégia reprodutiva do tatu-galinha ainda é um mistério

Ainda não se sabe exatamente por que o tatu-galinha evoluiu para gerar sempre quadrigêmeos idênticos, mas essa estratégia pode oferecer benefícios à espécie. Ter múltiplos filhotes por gestação aumenta as chances de que pelo menos um sobreviva e perpetue os genes dos pais. Em ambientes desafiadores, onde predadores e disponibilidade de alimento influenciam a sobrevivência dos filhotes, essa adaptação pode ter sido um fator determinante para o sucesso reprodutivo do animal.

Vertebrado equilibra reprodução e ambiente para garantir filhotes saudáveis (Imagem: Cody Stricker via iNaturalist (CC BY 4.0))

Além da poliembrionia obrigatória, a gestação do tatu-galinha apresenta outro aspecto incomum: a implantação retardada. Após a fertilização, o embrião não se fixa imediatamente no útero. Em vez disso, ele permanece em um estágio inicial de desenvolvimento, sustentado pelos fluidos da parede uterina. Esse processo pode durar vários meses, garantindo que a gestação só prossiga em um momento mais favorável, possivelmente sincronizado com a disponibilidade de recursos no ambiente.

Quando a implantação finalmente ocorre, o embrião se divide em quatro, formando os quadrigêmeos geneticamente idênticos. Esse mecanismo único entre os vertebrados permite um controle mais preciso sobre o momento da reprodução, reduzindo riscos para a mãe e para os filhotes. Essa adaptação pode ter sido fundamental para a sobrevivência da espécie, especialmente em habitats onde as condições variam ao longo do ano, tornando o tatu-galinha um caso fascinante de evolução reprodutiva.

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Evolução inteligente: como o tatu-galinha ajusta sua reprodução ao clima

Enquanto a origem dos quadrigêmeos idênticos ainda intriga pesquisadores, a razão para a implantação retardada já é bem compreendida. Esse mecanismo permite que o tatu-galinha sincronize sua gestação com a chegada da primavera, quando as temperaturas são mais amenas e há mais alimento disponível. Como a fêmea precisa amamentar quatro filhotes ao mesmo tempo, garantir uma nutrição adequada nesse período aumenta suas chances de sucesso reprodutivo.

Imagem mostra tatu-galinha em seu habitat-natural.
Tatu-galinha: estratégias para garantir a sobrevivência de sua prole (Imagem: Leonardo Mercon/Shutterstock)

O crescimento dos filhotes também depende de um suprimento eficiente de minerais. Assim que nascem, sua carapaça ainda é mole e flexível, tornando-os vulneráveis. No entanto, esse quadro muda rapidamente, graças ao alto teor de cálcio e fósforo presente no leite materno. Com essa nutrição reforçada, os pequenos tatus desenvolvem sua proteção óssea rapidamente, tornando-se mais resistentes a predadores e aos desafios do ambiente.

A velocidade desse desenvolvimento pode surpreender, já que a alimentação do tatu-galinha é baseada principalmente em insetos, uma fonte pouco associada à reposição de cálcio. No entanto, essa espécie demonstra uma impressionante capacidade de adaptação. Se consegue gerar quadrigêmeos idênticos a cada gestação, também evoluiu estratégias para garantir que cada um deles cresça forte e seguro no ambiente selvagem.

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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/01/30/ciencia-e-espaco/tatu-galinha-e-sua-reproducao-unica-apenas-quadrigemeos-identicos/