12 de dezembro de 2024
Temperaturas elevadas anunciam tempestades de poeira em Marte
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Enquanto na Terra dias quentes e ensolarados são geralmente motivo de celebração, em Marte eles podem anunciar problemas. Por lá, períodos de aquecimento intenso precedem frequentemente tempestades de poeira.

Embora sejam um fenômeno fascinante, as tempestades de poeira representam desafios significativos para missões espaciais em Marte. Esses eventos, que começam de forma localizada, podem crescer a ponto de envolver o planeta inteiro, obscurecendo grandes formações geológicas e dificultando operações robóticas. 

Como a atmosfera marciana é muito mais rarefeita que a terrestre, os ventos nem são tão fortes, mas a poeira fina suspensa pode causar danos severos. Um exemplo emblemático foi o rover Opportunity, da NASA, que perdeu energia solar durante uma tempestade generalizada e nunca mais foi reativado. A sonda InSight também foi prejudicada pelo acúmulo de poeira nos painéis de captação de energia, parando de funcionar.

Painéis solares da sonda InSight, da NASA, cobertos de poeira de Mrte. Créditos: NASA/JPL-Caltech

Tempestades de poeira em Marte se dividem em três tipos

Para amenizar esses riscos, cientistas têm buscado compreender melhor as condições que levam à formação dessas tempestades. Heshani Pieris e Paul Hayne, da Universidade do Colorado, analisaram dados obtidos ao longo de oito anos marcianos, equivalentes a 15 anos na Terra. Eles apresentaram os resultados na terça-feira (10), durante a reunião anual da União Geofísica Americana em Washington, D.C.

As informações para a pesquisa de Pieris e Hayne foram fornecidas pela sonda Mars Reconnaissance Orbiter (MRO), da NASA. A espaçonave conta com um instrumento que monitora a superfície e a atmosfera marciana em luz visível e infravermelha, avaliando como mudanças de temperatura afetam o clima do planeta.

Os cientistas classificaram as tempestades de poeira em Marte em três tipos principais: A, B e C. Enquanto as tempestades “A” e “C” se originam no hemisfério norte, seguindo rotas específicas por áreas como Acidalia Planitia e Utopia Planitia, as “B” começam no hemisfério sul, frequentemente alimentadas por poeira da bacia de Hellas. 

Uma imagem em close-up de uma tempestade de poeira marciana adquirida pela espaçonave Mars Reconnaissance Orbiter (MRO), da NASA. Crédito: NASA/JPL-Caltech

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A análise dos dados revelou que 78% dessas tempestades se formaram após períodos prolongados de dias quentes e ensolarados. Embora as temperaturas médias em Marte sejam extremamente baixas, com mínimas de -60°C, regiões próximas ao equador podem alcançar picos de 20°C, criando condições favoráveis para o levantamento de poeira.

“Quando a superfície aquece, o ar próximo se torna mais leve e ascende, carregando partículas de poeira com ele”, explicou Pieris na apresentação. Baseados nessa observação, os pesquisadores desenvolveram um modelo capaz de prever tempestades “A” e “C” com uma taxa de precisão de 64%. Embora ainda longe de oferecer previsões perfeitas, o estudo representa um avanço significativo e pode facilitar operações futuras em Marte.

No entanto, muitas perguntas permanecem sem resposta. Por que algumas tempestades de poeira permanecem confinadas a áreas pequenas, enquanto outras se tornam eventos globais? E quais fatores desencadeiam essa transição? “Ainda não compreendemos totalmente a física básica que governa o início e a intensificação dessas tempestades”, disse Hayne.

Tempestade de poeira envolvendo a superfície de Marte, registrada pelo Telescópio Espacial Hubble em 2018. Crédito: NASA / ESA / STScI

Missões tripuladas podem ser seriamente comprometidas

A relação entre temperaturas elevadas e tempestades de poeira não é completamente nova. Durante a tempestade global de 2001, por exemplo, o instrumento Mars Global Surveyor, que orbitou Marte entre 1997 e 2006, detectou um desequilíbrio acentuado entre a energia solar absorvida pela superfície e a quantidade irradiada de volta ao espaço. Esse desequilíbrio foi mais evidente durante o verão do hemisfério sul, período de maior atividade de tempestades, e forneceu energia adicional para a formação e intensificação dos eventos climáticos.

Além do impacto em missões robóticas, as tempestades de poeira levantam preocupações sobre missões tripuladas ao planeta. A poeira fina não apenas gruda em equipamentos, como também pode prejudicar sistemas vitais. “Essas partículas leves e aderentes representam um desafio significativo para qualquer missão futura”, afirma Pieris.

Desenvolver métodos para proteger equipamentos e prever tempestades com maior precisão será essencial para garantir a segurança de astronautas e equipamentos no ambiente hostil marciano.

À medida que a humanidade avança em direção a Marte, entender os fenômenos climáticos do planeta se torna cada vez mais crucial. Com a ajuda de estudos como esse, cientistas esperam garantir que as próximas gerações de exploradores estejam preparadas para enfrentar o ambiente marciano, abrindo caminho para novas descobertas em um dos mundos mais intrigantes do Sistema Solar.

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Fonte: https://olhardigital.com.br/2024/12/12/ciencia-e-espaco/temperaturas-elevadas-anunciam-tempestades-de-poeira-em-marte/