O pacote de remuneração de Elon Musk, CEO da Tesla, pode render até US$ 878 bilhões (R$ 4,7 trilhões, na conversão direta) em ações da empresa ao longo de dez anos, mesmo que ele não cumpra as metas mais ambiciosas propostas.
A constatação foi feita por uma análise da Reuters, que avaliou os objetivos de desempenho definidos pelo conselho da montadora e ouviu especialistas em remuneração executiva, avaliação de empresas, robótica e direção autônoma.
O plano, anunciado em setembro, foi descrito como o maior pacote de remuneração executiva da história corporativa. À época, o conselho da Tesla declarou que Musk precisaria atingir marcos equivalentes a uma “missão a Marte” — transformando a Tesla e a sociedade em áreas, como robótica e direção autônoma — para garantir o pagamento total. Caso contrário, o bilionário receberia “zero”, a menos que alcançasse esses objetivos “incrivelmente ambiciosos”.
Contudo, segundo a Reuters, Musk poderia lucrar dezenas de bilhões de dólares sem atingir a maior parte dessas metas.
A análise indica que ele poderia receber mais de US$ 50 bilhões (R$ 268,9 bilhões) apenas com o cumprimento de alguns dos objetivos mais fáceis.
Mesmo alcançando apenas duas metas e com um crescimento modesto das ações, Musk embolsaria US$ 26 bilhões (R$ 139,8 trilhões) — valor superior à soma da remuneração vitalícia dos oito CEOs mais bem pagos do mundo, incluindo Mark Zuckerberg (Meta), Larry Ellison (Oracle), Tim Cook (Apple) e Jensen Huang (Nvidia), segundo levantamento da empresa Equilar.
Musk vai atingir desejado pacote de remuneração?
- Especialistas do setor automotivo afirmaram que as metas de vendas de veículos impostas a Musk são fáceis de cumprir;
- Se ele vender em média 1,2 milhão de carros por ano na próxima década, ganhará US$ 8,2 bilhões (R$ 44,1 bilhões) em ações caso o valor de mercado da Tesla suba de US$ 1,4 trilhão (R$ 7,5 trilhões) para US$ 2 trilhões (R$ 10,7 trilhões) até 2035 — crescimento inferior à média do mercado. Atualmente, a empresa vende mais do que isso;
- A Tesla lançou, recentemente, versões mais baratas de seus modelos mais populares, o SUV Model Y e o sedã Model 3, em tentativa de conter a queda nas vendas;
- Três das metas de desenvolvimento de produtos são descritas com linguagem vaga, o que, segundo seis especialistas consultados pela Reuters, poderia garantir pagamentos substanciais a Musk mesmo sem ganhos significativos de lucro.
Em comunicado, um porta-voz do conselho afirmou que o pacote “vale zero para nosso CEO, a menos e até que os acionistas vejam o valor da empresa quase dobrar e uma meta operacional seja alcançada”. O plano exige que Musk permaneça como executivo por pelo menos sete anos e meio, mas ele teria direito de voto sobre as ações assim que cada meta for atingida.
Em sua rede social, o X, Musk declarou que o pacote “não se trata de ‘remuneração’, mas de garantir influência suficiente sobre a Tesla para garantir segurança caso venhamos a construir milhões de robôs”. O conselho da Tesla acrescentou que o bilionário é “motivado por mais do que formas convencionais de remuneração”.
Carros autônomos, robôs-táxi e robótica
Cada meta dá a Musk 1% das ações da Tesla caso atinja também marcos de valorização entre US$ 2 trilhões e US$ 8,5 trilhões (R$ 10,7 trilhões/R$ 45,7 trilhões). Uma das metas exige dez milhões de assinaturas do software Full Self-Driving (FSD), que, atualmente, ainda requer intervenção humana.
A meta não exige autonomia total, apenas que o sistema seja um “sistema de direção avançado”. O termo, segundo o professor de direito William Widen, da Universidade de Miami (EUA), é “inventado” e não possui definição padrão na indústria. Especialistas afirmam que a meta pode ser atingida com facilidade por meio de descontos no preço do software.
Outra meta prevê um milhão de robôs-táxi em operação comercial, especificando que os veículos não terão “motorista humano no veículo”. Apesar disso, quatro especialistas disseram que a cláusula pode permitir controle remoto ou por alguém no banco do passageiro — como ocorre no teste piloto em Austin, Texas (EUA).
O contrato também menciona a meta de um milhão de “robôs”, aparentemente referindo-se aos robôs humanoides Optimus, mas sem especificar o tipo. Segundo o analista Christian Rokseth, da empresa Humanoid.guide, “é uma formulação totalmente vaga”. Ele afirma que os investidores esperam um robô humanoide.
Cumprir duas metas de produto e alcançar US$ 2,5 trilhões (R$ 13,4 trilhões) em valor de mercado renderia US$ 26,4 bilhões (R$ 1,4 trilhão) em ações a Musk. Três metas e um valor de US$ 3 trilhões (R$ 16,1 trilhões) resultariam em US$ 54,6 bilhões (R$ 293,7 bilhões). Isso significa que ele poderia lucrar sem entregar os Teslas autônomos que promete há uma década.
Gene Munster, sócio da gestora Deepwater Asset Management, afirmou que, “se as pessoas começarem a perceber que há algo estranho nisso, ele estará em apuros”. Já o conselho da Tesla argumenta que Musk é “a única pessoa capaz de transformar a empresa em uma gigante da inteligência artificial [IA]”. Durante as negociações, o executivo teria sugerido “priorizar outros empreendimentos” caso o acordo não fosse fechado.
Wei Jiang, vice-reitora da escola de negócios da Universidade Emory, avaliou que o conselho deu a Musk um “monopólio” sobre o comando da empresa, o que representa um risco elevado. Segundo ela, “boa governança corporativa exige um mercado competitivo e fluido para CEOs”.
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Parte difícil para Musk: lucros
As metas mais desafiadoras do pacote são as relacionadas ao lucro, segundo a Reuters. O conselho estabeleceu oito objetivos de ganhos entre US$ 50 bilhões e US$ 400 bilhões (R$ 268,9 bilhões/2,1 trilhões) em EBITDA — bem acima dos US$ 16,6 bilhões (R$ 89,3 bilhões) registrados em 2024. A Tesla enfrenta queda nas vendas e aumento da concorrência, enquanto seu modelo mais recente, o Cybertruck, teve desempenho abaixo do esperado.
Ainda assim, a estrutura do contrato permite que Musk receba grandes quantias sem atingir nenhuma meta de lucro. Cada objetivo de produto ou valorização garante o mesmo pagamento de 1% em ações. Assim, Musk pode receber o mesmo valor por cumprir metas simples de vendas ou assinaturas do FSD que receberia por multiplicar os lucros da empresa.
As metas de valorização, segundo analistas, são relativamente fáceis. Se as ações da Tesla crescerem 6,4% ao ano — abaixo da média de longo prazo do S&P 500 —, o valor de mercado já atingiria US$ 2 trilhões (R$ 10,7 trilhões).
Seth Goldstein, analista da Morningstar, disse que a Tesla poderia “facilmente” chegar a US$ 3 trilhões (R$ 16,1 trilhões) em uma década com um desempenho médio. Mas ele alertou que “o valor da Tesla já está amplamente baseado em produtos futuros que ainda não existem”.
Para receber os maiores pagamentos, Goldstein afirmou que “vamos precisar começar a ver produtos reais”. Kevin Murphy, professor da Universidade do Sul da Califórnia, reconheceu que as metas de vendas e valorização de US$ 2 trilhões (R$ 10,7 trilhões) “não são muito difíceis”, mas observou que apenas alcançá-las não satisfará os acionistas.
Para Murphy, os “alguns bilhões” das metas mais simples não significam muito para Musk, que se interessa mais por conquistas tecnológicas de grande impacto. “Vale a pena?”, questionou o professor. “Os acionistas parecem achar que sim.”
O que dizem os citados
Apesar do que foi comunicado pela empresa e pelo empresário, a Reuters pediu à Tesla e Musk que comentassem, mas não obteve retorno.
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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/10/10/pro/tesla-pacote-pode-render-bilhoes-a-musk-mesmo-sem-cumprir-grandes-metas/
