3 de fevereiro de 2025
Trump quer astronautas em Marte dentro de quatro anos –
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Após o discurso de posse, no dia 20 de janeiro, o presidente Donald Trump afirmou que os EUA pretendem levar astronautas a Marte nos próximos quatro anos, durante seu novo mandato. 

A declaração levantou dúvidas: a humanidade ainda nem retornou à Lua, com as missões Artemis, da NASA, sendo constantemente adiadas. Seria possível pular essas etapas e pousar no Planeta Vermelho até 2029?

“Ir a Marte é o maior desafio já proposto para a exploração espacial”, disse Volker Maiwald, engenheiro aeroespacial do Centro Aeroespacial Alemão (DLR), ao site Space.com. Segundo especialistas, os obstáculos vão desde limitações técnicas até riscos biológicos e ambientais.

O primeiro estágio do superfoguete Starship, da SpaceX, que dá nome ao complexo veicular, foi escolhido pela NASA como módulo de pouso para os humanos em Marte. Crédito: SpaceX

A iniciativa provavelmente se apoiaria na SpaceX, empresa de Elon Musk, designado líder do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês) por Trump, envolvendo o megafoguete Starship, ainda em fase de testes e aprimoramento. 

O veículo, projetado para missões interplanetárias, fez o sétimo voo de teste em janeiro, com sucessos parciais e falhas, culminando na explosão no estágio superior. Apesar disso, Musk afirma que a SpaceX pode enviar missões não tripuladas a Marte em 2026 e astronautas em 2028.

Capacidade de carga do Starship pode ser um desafio

Maiwald e sua equipe analisaram os dados disponíveis sobre o Starship e apontaram um problema fundamental: a espaçonave não teria capacidade para levar toda a carga necessária em um único voo.

Uma missão a Marte exige toneladas de suprimentos, como alimentos, água, oxigênio e combustível. Uma solução seria reciclar esses recursos ao máximo. Plantas, por exemplo, podem gerar oxigênio e transformar resíduos em comida. Mas, segundo os cálculos da equipe, nem mesmo uma taxa de reciclagem de 100% seria suficiente para reduzir a carga a um nível viável. “Uma taxa de recuperação perfeita é impossível, pois sempre há perdas”, explica Maiwald.

Seria possível fabricar combustível em Marte?

Outro desafio é o abastecimento de propelente. Para diminuir o peso da espaçonave na decolagem, a ideia seria fabricar metano e oxigênio em Marte, utilizando gelo subterrâneo e o gás carbônico (CO₂) da atmosfera. No entanto, essa tecnologia ainda está em estágio inicial.

O experimento MOXIE, embarcado no rover Perseverance, da NASA, conseguiu produzir pequenas quantidades de oxigênio a partir do CO₂ marciano. Mas os números são desanimadores: o equipamento fabricava 10 gramas de oxigênio por hora, enquanto seriam necessárias 25 toneladas apenas para o retorno de quatro astronautas.

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MOXIE, instrumento desenvolvido para produzir oxigênio em Marte. Créditos: NASA/JPL-Caltech

A produção de metano também é um problema. Atualmente, não há tecnologia próxima da fase de testes para sintetizar esse combustível em Marte. “Esse é um desafio colossal”, admite Maiwald.

Uma alternativa seria enviar espaçonaves não tripuladas antes da missão principal, transportando o combustível e suprimentos necessários. Mas esse plano não faz parte do projeto atual da SpaceX.

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Radiação e microgravidade

A viagem a Marte levaria, no mínimo, seis meses, expondo os astronautas a uma taxa de radiação espacial muito superior à que recebem na Estação Espacial Internacional (ISS). Simulações sugerem que um tripulante acumularia 60% do limite de radiação recomendado para toda a vida. Além disso, Marte tem uma atmosfera rarefeita e não possui campo magnético, deixando seus exploradores vulneráveis a tempestades solares.

Nível de radiação na superfície de Marte é altamente agressivo. Crédito: ConceptCafe – Shutterstock

Outro problema é a microgravidade, que provoca atrofia muscular e danos à visão. Estudos indicam que 70% dos astronautas que passam meses na ISS apresentam síndrome neuro-ocular, causada pela redistribuição de fluidos no corpo. Há também indícios de maior incidência de catarata precoce devido à radiação.

Para minimizar esses efeitos, cientistas estudam novos materiais de blindagem, sendo o lítio um dos mais promissores. Mas ainda não há soluções definitivas.

Outro dilema é evitar a contaminação de Marte com microrganismos terrestres. O Comitê de Pesquisa Espacial (COSPAR) estipula que missões robóticas projetadas para buscar sinais de vida devem ser esterilizadas a ponto de haver menos de uma chance em 10 mil de contaminação.

No entanto, uma missão tripulada inevitavelmente levaria micróbios. Astronautas são organismos vivos cobertos de bactérias. Ainda não se sabe qual impacto isso teria em Marte, especialmente se houver vida microbiana nativa.

Para que astronautas pisem em Marte antes de 2030, seria necessário avançar em várias frentes tecnológicas em um prazo curto e sem margens para erros. No cenário atual, a proposta se mostra extremamente ambiciosa – e, talvez, irrealista.

O post Trump quer astronautas em Marte dentro de quatro anos – será que dá? apareceu primeiro em Olhar Digital.

Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/02/03/ciencia-e-espaco/trump-quer-astronautas-em-marte-dentro-de-quatro-anos-sera-que-da/