1 de maio de 2025
Túmulos no Egito revelam representação visual mais antiga da Via
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Combinando astronomia com egiptologia, o astrofísico Or Graur, da Universidade de Portsmouth, na Inglaterra, investigou como o Egito antigo via a Via Láctea. Ele acredita ter encontrado a mais antiga representação visual da galáxia em imagens da deusa Nut, figura central da mitologia egípcia. 

Publicada na revista Journal of Astronomical History and Heritage, a descoberta conecta ciência moderna com crenças antigas para decifrar como o céu era retratado há milênios.

Nut é conhecida como a deusa do céu e aparece em muitos caixões e tumbas do Egito. Ela costuma ser mostrada como uma mulher arqueada, com o corpo cheio de estrelas, cobrindo o céu e protegendo a Terra abaixo. Segundo a mitologia, Nut engole o Sol ao anoitecer e o dá à luz novamente ao amanhecer, simbolizando o ciclo do dia. Era assim que os egípcios entendiam o funcionamento do Universo.

A deusa do céu, Nut, coberta de estrelas, erguida por seu pai, Shu, e arqueada sobre Geb, seu irmão, o deus da Terra. À esquerda, o Sol nascente (o deus com cabeça de falcão Re) sobe pelas pernas de Nut. À direita, o Sol poente navega por seus braços em direção aos braços estendidos de Osíris, que regenerará o Sol no submundo durante a noite. Crédito: EA Wallis Budge, Os Deuses dos Egípcios, Vol. 2 (Methuen & Co., 1904).

Pesquisador analisou mais de 500 túmulos milenares

Graur analisou 125 imagens de Nut em 555 sepulturas, algumas com quase cinco mil anos. Em uma delas, do caixão de Nesitaudjatakhet, cantora do deus Amon-Rá, algo chamou atenção: uma curva preta ondulada atravessando o corpo da deusa, do pé até as mãos. Estrelas aparecem tanto acima quanto abaixo dessa linha, como se ela dividisse o céu em duas partes. 

Para o cientista, essa curva pode ser uma representação da Grande Fenda – uma faixa escura de poeira que corta o brilho da Via Láctea quando observada da Terra. Segundo ele, a comparação entre essa pintura e uma foto real da galáxia mostra uma semelhança impressionante.

Imagens parecidas aparecem em outras quatro tumbas, inclusive no túmulo do faraó Ramsés VI. No teto de sua câmara funerária, Nut é desenhada duas vezes, separada por curvas onduladas douradas que atravessam suas costas. Essas formas não são comuns nas outras representações da deusa, o que reforça a ideia de que indicam algo especial – talvez a própria galáxia no céu noturno.

Nut, a deusa egípcia do céu, e figuras humanas representando estrelas e constelações do mapa estelar encontrado na tumba de Ramsés VI. Crédito: Hans Bernhard, GFDL-CC-BY-SA

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Imagens da Via Láctea mostram relação entre religião e astronomia no Egito Antigo

Graur faz uma distinção importante: para ele, Nut não é a Via Láctea em si, mas o céu como um todo. Elementos como o Sol, as estrelas e a própria galáxia são usados para decorar e ilustrar seu papel no universo. Em outras palavras, a Via Láctea ajuda a mostrar a grandeza da deusa, mas não a define.

Em um estudo anterior, publicado em 2024, Graur já havia comparado textos antigos – como os Textos das Pirâmides, os Textos dos Caixões e o Livro de Nut – com simulações modernas do céu do Egito. Ele sugeriu que, no inverno, a Via Láctea poderia marcar os braços de Nut, enquanto no verão, ela destacava sua espinha dorsal. Isso reforçava a ideia de Nut como o próprio céu.

As novas imagens analisadas agora acrescentam uma dimensão visual a essas ideias. Elas mostram que a arte egípcia pode ter sido uma forma de observar e registrar o cosmos, com símbolos que representam fenômenos reais. Segundo Graur, os desenhos pintam, literalmente, um novo quadro da relação entre religião e astronomia no Egito Antigo.

O interesse do cientista por Nut surgiu durante uma visita ao museu com suas filhas pequenas. “Elas ficaram encantadas com a figura da deusa arqueada e pediram para ouvir histórias sobre ela”, disse Graur em um comunicado. Essa curiosidade infantil acabou levando a uma pesquisa que une mitologia, ciência e imaginação através dos milênios.

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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/05/01/ciencia-e-espaco/tumulos-no-egito-revelam-representacao-visual-mais-antiga-da-via-lactea/