3 de setembro de 2025
Visitante interestelar está prestes a passar por Marte a caminho
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Descoberto em 1º de julho pelo Sistema de Alerta de Impacto Terrestre de Asteroide (ATLAS), o cometa 3I/ATLAS é apenas o terceiro visitante interestelar (objeto vindo de fora) já detectado no Sistema Solar. Ele está a caminho de um encontro próximo com o Sol em 29 de outubro e, antes disso, vai passar por Marte – momento mais oportuno para ser investigado.

A Agência Espacial Europeia (ESA) está se preparando para essa oportunidade única de estudar o cometa interestelar 3I/ATLAS a partir do que pode ser o melhor ponto de observação do Sistema Solar.  

O objeto chegará a cerca de 30 milhões de km de Marte no início do mês que vem. Já a proximidade máxima com a Terra acontecerá em dezembro, mas a uma distância bem maior: algo em torno de 270 milhões de km. Isso significa que espaçonaves orbitando o planeta vermelho estão em vantagem para investigar o “forasteiro”.

Imagem do 3I/ATLAS, obtida pelo VLT em 23 de agosto de 2025, mostra que o objeto está desenvolvendo uma cauda cometária clássica. Crédito: ESO / Very Large Telescope / T. Puzia

Sondas de Marte podem revelar detalhes desconhecidos do visitante interestelar

Colin Frank Wilson, cientista de projeto dos orbitadores de Marte da ESA, confirmou ao site Space.com que a agência planeja observações no dia 3 de outubro, data prevista para o cometa atingir o ponto mais próximo de Marte. Mesmo a dezenas de milhões de quilômetros de distância, os instrumentos a bordo podem captar informações valiosas.

As sondas Mars Express e ExoMars Trace Gas Orbiter (TGO) estão na linha de frente dessa tarefa. Segundo Wilson, a primeira usará sua Câmera Estéreo de Alta Resolução (HRSC), enquanto a segunda contará com o Sistema de Imagens de Superfície Estéreo e Coloridas (CaSSIS).

Representação artística da sonda Mars Express, da ESA, que orbita Marte e pode ajudar a observar o objeto interestelar 3I/ATLAS. Crédito: MediaLab/ESA

O HRSC deve ajudar a identificar o formato do cometa e verificar se ele é alongado, esférico ou irregular. O 1I/‘Oumuamua, primeiro visitante interestelar, por exemplo, era um asteroide de forma alongada, e o segundo, 2I/Borisov, mais parecido com um cometa tradicional.

Já o TGO poderá analisar a atividade do objeto com espectrômetros capazes de detectar moléculas como vapor d’água ou compostos orgânicos. No entanto, a expectativa é de sinais fracos, já que o cometa pode não ser tão ativo.

Existem outras espaçonaves em Marte que poderiam aproveitar a aproximação do 3I/ATLAS, como os satélites Mars Atmosphere and Volatile EvolutioN (MAVEN) e Mars Reconnaissance Orbiter (MRO), ambos da NASA. A China também possui seu orbitador Tianwen-1, que carrega uma câmera de alta resolução comparável à do MRO.

Representação artística da sonda Mars Reconnaissance Orbiter (MRO), da NASA, que orbita MArte desde 2006. Crédito: Merlin74 – Shutterstock

Conforme noticiado pelo Olhar Digital, um estudo recente, disponível no servidor de pré-impressão arXiv, avaliou quais missões em andamento poderiam observar melhor o cometa. Além das sondas em Marte, duas missões se destacam: a Psyche, da NASA, e a JUICE, da ESA.

A Psyche, que viaja em direção ao asteroide metálico 16 Psyche, chegará a apenas 45 milhões de quilômetros dele. Já a JUICE, a caminho de Júpiter, estará a 68 milhões de quilômetros de distância, em uma posição estratégica que será alcançada após uma manobra realizada sobre Vênus no último domingo (31).

Espaçonave poderia tentar coletar material da cauda do cometa

Mais adiante, o objeto também passará pelo campo de visão do Observatório Solar e Heliosférico (SOHO), operado em parceria pela ESA e a NASA, assim como da Sonda Solar Parker e da missão PUNCH, ambas norte-americanas. No entanto, seus instrumentos foram projetados para monitorar o Sol, o que significa menor resolução para observar o corpo interestelar.

Nem todas as missões conseguirão contribuir de forma direta. Sondas como a Europa Clipper, a Hera e a Lucy estarão em posições desfavoráveis, sendo prejudicadas pelo Sol. Mesmo assim, existe a chance de que alguma delas atravesse ou se aproxime da cauda do 3I/ATLAS, podendo até coletar partículas ou fornecer outro tipo de dado científico.

O cometa interestelar 3I/ATLAS foi analisado pela visão infravermelha do Telescópio Espacial James Webb, que descobriu uma composição química muito peculiar. Se alguma sonda conseguir se apoximar o bastante dele, pode tentar coletar amostra. Crédito: NASA/Telescópio Espacial James Webb

Esse tipo de interação depende do desenvolvimento da cauda, que pode se estender por milhões de quilômetros. Caso alguma nave consiga interceptá-la, técnicas como espectroscopia de massa poderiam revelar a composição detalhada do cometa. Isso ajudaria a confirmar se ele realmente veio do disco espesso da galáxia.

A importância desse esforço está em compreender um pedaço do Universo que nunca tivemos a oportunidade de estudar de perto. “Se o 3I/ATLAS for mesmo um objeto do disco espesso, poderemos aprender sobre uma região da galáxia que jamais visitaríamos em um futuro próximo”, explicou o pesquisador da Universidade de Luxemburgo, Andreas M. Hein, o coautor do estudo, comparando a situação ao ditado popular: “se Maomé não vai à montanha, a montanha vem a Maomé”.

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Thomas Marshall Eubanks, cientista-chefe da startup Space Initiatives Inc., sediada na Flórida, EUA, líder da pesquisa, reforça a raridade da ocasião. Quase tudo no Sistema Solar foi formado há 4,6 bilhões de anos, enquanto o cometa pode trazer informações de quase três bilhões de anos antes disso. “É a chance de estudar o ‘meio-dia cósmico’, um período de intensa formação estelar, mas em escala local e não a bilhões de anos-luz de distância”.

Segundo a equipe, o recém-inaugurado Observatório Vera C. Rubin, no Chile, que já capturou imagens do cometa, deve desempenhar papel crucial na detecção de outros visitantes interestelares ao longo de sua missão de mapear detalhadamente o céu. 

Outro aspecto intrigante destacado no estudo é que o 3I/ATLAS pode deixar fragmentos pelo caminho quando for embora do Sistema Solar. Hein sugere que parte do material pode se transformar em chuvas de meteoros em Marte ou na Terra, caso as partículas cruzem ocasionalmente as órbitas desses planetas. Ele acredita que até mesmo pedaços maiores poderiam ser detectados futuramente.

Para os astrônomos, os próximos meses prometem ser intensos. Cada nova observação do 3I/ATLAS pode trazer pistas sobre sua origem, composição e história. E, com sorte, ajudar a responder perguntas fundamentais sobre como diferentes regiões da galáxia moldaram o Universo em que vivemos.

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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/09/03/ciencia-e-espaco/visitante-interestelar-esta-prestes-a-passar-por-marte/