O lítio é ingrediente essencial na produção de um dos dispositivos mais importantes dos últimos anos: baterias para eletrônicos e carros elétricos. No entanto, a extração do metal levanta preocupações ambientais, como uso desenfreado de recursos hídricos, inclusive em um vizinho brasileiro.
Uma das maiores produtoras de lítio do mundo é a Argentina. Se por um lado o boom da extração trouxe benefícios econômicos a moradores de regiões próximas às minas, também trouxe consequências ambientais.
Argentina é uma das maiores produtoras de lítio
- A Argentina é o quarto maior produtor mundial de lítio;
- Segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos, cerca de 56% das 89 milhões de toneladas de recursos feitos com o material encontrados ao redor do planeta vêm de nosso vizinho;
- A Argentina, junto a Chile e Bolívia, forma o “triângulo do lítio” da América Latina;
- Não por acaso, duas novas plantas de produção do metal foram inauguradas na Argentina, sendo uma do grupo de mineração francês Eramet e outra da chinesa Tsingshan.
Boom de lítio traz benefícios econômicos para o país
A demanda por lítio agrada moradores de Susques, cidade argentina com menos de quatro mil habitantes – e onde uma empresa de extração está instalada.
Anahi Jorge, 23 anos, é uma das funcionárias da companhia. Ela relatou à AFP (republicada pelo TechXplore) que ganha cerca de US$ 1,7 mil por mês (pouco mais de R$ 9,3 mil, na conversão direta), um salário acima da média na região.
Ela contou como outras mulheres jovens, como ela, não tinham outra opção de trabalho por lá e tiveram de se mudar para cidades maiores para trabalhar como empregadas domésticas. Em país em crise e com oscilações econômicas, a oferta do lítio “é muito difícil de recusar”.
A agência também relatou como outros moradores de Susques, muitos deles indígenas, usaram economias de anos trabalhando nas minas de lítio para abrir suas próprias empresas, de transporte ou hotelaria.
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Por outro lado, mineral traz malefícios
O representante da cidade de Susque, Benjami Vazquez, afirmou que 60% da população trabalha com lítio. Apesar do boom econômico causado pelo metal, a situação não é exatamente estável: em 2022, o preço da tonelada era de US$ 70 mil (R$ 385,65 mil); este ano, está em pouco mais de US$ 12 mil (R$ 66,11 mil).
Camila Cruz, 19 anos, compartilha dessa preocupação. Ela contou como boa parte da população termina o ensino médio para trabalhar na mineração, mas que sabe que esse ofício não vai durar para sempre.
Isso porque, ao contrário da Austrália, onde o metal é extraído diretamente da rocha, o lítio argentino vem de salinas, onde a água salgada contendo o material é trazida por lagos subterrâneos e passa por processo até evaporar (deixando apenas o metal).
Nesse processo, entre um e dois milhões de litros de água salgada são evaporados para cada uma tonelada de lítio, sem contar outros 14 mil litros de água doce para limpar o material.
Jorge, a mulher que trabalha com lítio, reconhece que a “questão da água” é prejudicial. Além do impacto nas redes subterrâneas, o uso em excesso coloca em risco a disponibilidade de água na Argentina e torna a região mais propensa a secas prolongadas.
Natividad Bautista Sarapura, 59 anos, moradora de Susques, relatou que, no campo, simplesmente não há água para subsistência do gado. Antes, ela tinha que cavar cerca de dois a três metros para encontrar o líquido. Agora, nem assim.
A Organização das Nações Unidas (ONU), no Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial da Água de 2024, chamou atenção para o risco do lítio que vem de salinas. O documento afirma que a atividade “tem grandes impactos nas águas subterrâneas e na vida das comunidades locais, bem como no meio ambiente”.
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Fonte: https://olhardigital.com.br/2024/08/28/pro/vizinho-do-brasil-tem-imensa-reserva-de-litio-e-alguns-problemas-por-conta-disso/