5 de outubro de 2024
Arte rupestre peruana de dois mil anos pode retratar música
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Gravuras antigas encontradas em rochas vulcânicas no sul do Peru podem ser a representação gráfica da música que foi executada durante rituais xamânicos envolvendo plantas alucinógenas há cerca de dois mil anos.

Formada por figuras humanas dançantes cercadas por linhas em ziguezague e outras formas geométricas, a arte enigmática foi recentemente examinada por pesquisadores que concluíram que esses desenhos abstratos podem retratar as canções que “transportaram os participantes para outras dimensões durante suas viagens psicodélicas”.

Esses registros pré-colombianos foram encontrados na Toro Muerto, em desfiladeiro desértico que contém uma das mais ricas coleções de arte rupestre da América do Sul. O local está repleto de milhares de pedregulhos, e cerca de 2,6 mil deles apresentam gravuras antigas.

Toro Muerto. Pontos vermelhos indicam pedregulhos com dançantes, pontos amarelos marcam pedregulhos nos quais dançantes não estão gravados e ponto verde indica a localização da pedra TM 1219. Crédito: J.Z. Wołoszyn.

Um artigo publicado este mês no Cambridge Archaeological Journal descreve a descoberta dos arqueólogos, no qual eles relatam que as obras contêm “uma repetição quase esmagadora de imagens de figuras humanas dançantes, únicas na região, e um acúmulo extraordinário de padrões geométricos, na maioria das vezes na forma de ziguezague vertical, linhas retas e sinuosas variando em largura, às vezes com pontos ou círculos acompanhantes”. 

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Música entoada em rituais de ayahuasca é representada em arte rupestre amazônica

Para defender essa hipótese, os pesquisadores apontam semelhanças marcantes entre os desenhos de Toro Muerto e as obras de arte tradicionais da cultura Tukano na Amazônia colombiana. 

No caso desta última, os desenhos geométricos foram ligados às visões induzidas pela bebida alucinógena ayahuasca, que é ingerida por comunidades indígenas amazônicas há milênios durante rituais.

Pedra MT 1309, que contém dançantes associados a um conjunto de linhas verticais e senoidais. Créditos: A. Rozwadowski (foto); Equipe de Pesquisa Polaco-Peruana (reprodução do desenho).

Análises antropológicas desses rituais têm repetidamente destacado a importância da música, com canções conhecidas como ícaros sendo cantadas por xamãs como um meio de comunicação com os deuses e viagem pelo cosmos espiritual. 

Curiosamente, estudos sobre o significado dos ziguezagues na obra do povo nativo Tukano revelaram que “os Tukano viam neles as representações de canções que eram parte integrante do ritual, tendo também poder agentivo, e constituindo um meio de transferência para o tempo mítico do início”.

Os inscritos da pedra TM 1219 reproduzidos no desenho abaixo. Créditos: A. Rozwadowski (foto); Equipe de Pesquisa Polaco-Peruana (reprodução do desenho).

Em outras palavras, na visão do povo Tukano, essas formas retratam a música xamânica que encanta os participantes do ritual sob os efeitos do ayahuasca, levando-os a um “mundo paralelo” no qual são capazes de se reconectar à ancestralidade. 

Aplicando essa mesma interpretação às obras de Toro Muerto, os autores do estudo sugerem que “o dançante central envolto por linhas onduladas é na verdade ‘cercado’ por canções, que – incorporando energia e poder simultaneamente – foram a fonte de transferência para outro mundo”.

Abordando o significado mais profundo por trás dessas representações musicais, os autores explicam que “o cosmos constituiu o espaço que o xamã explorou em sua jornada visionária, enquanto as linhas onduladas e em ziguezague poderiam ter sido visualizações tanto das canções levando-o àquela realidade paralela quanto à sensação de estar naquele outro mundo”.

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Fonte: https://olhardigital.com.br/2024/04/09/ciencia-e-espaco/arte-rupestre-peruana-de-dois-mil-anos-pode-retratar-musica-psicodelica/